PALAVRA COM SENTIDO

PALAVRA COM SENTIDO “… Vede as minhas mãos e os meus pés …" (cf. Lucas 24, 39) “…Neste terceiro domingo de Páscoa, voltamos a Jerusalém, ao Cenáculo, como que guiados pelos dois discípulos de Emaús, que tinham ouvido com grande emoção as palavras de Jesus ao longo do caminho e depois o reconheceram «ao partir o pão» (Lc 24, 35). Agora, no Cenáculo, Cristo ressuscitado apresenta-se no meio do grupo de discípulos, saudando-os: «A paz esteja convosco!» (v. 36). Mas eles, assustados e perturbados, pensaram que «viam um espírito», assim diz o Evangelho (v. 37). Então Jesus mostra-lhes as feridas do seu corpo e diz: «Vede as minhas mãos e os meus pés – as chagas – sou eu mesmo; tocai-Me e vede» (v. 39). E para os convencer, pede comida e come-a sob os seus olhares atónitos (cf. vv. 41-42). Há aqui um detalhe nesta descrição. O Evangelho diz que os Apóstolos, «por causa da alegria, estavam ainda sem querer acreditar». Tal era a alegria que sentiam, que não podiam acreditar que o que viam era verdadeiro. E um segundo detalhe: ficaram estupefactos, surpreendidos; admirados pois o encontro com Deus leva sempre à admiração: vai além do entusiasmo, além da alegria… é outra experiência. E eles rejubilaram, mas um júbilo que os fez pensar: não, isto não pode ser verdade!... É o espanto da presença de Deus. Não vos esqueçais deste estado de espírito, que é tão bom. Esta página do Evangelho é caraterizada por três verbos muito concretos, que num certo sentido reflectem a nossa vida pessoal e comunitária: ver, tocar e comer. Três acções que podem proporcionar a alegria de um verdadeiro encontro com Jesus vivo. Ver. «Vede as minhas mãos e os meus pés» – diz Jesus. Ver não é apenas olhar; é mais, requer também a intenção, a vontade. É por isso que é um dos verbos do amor. A mãe e o pai vêem o filho; os amantes vêem-se um ao outro; o bom médico vê o paciente com atenção... Ver é um primeiro passo contra a indiferença; contra a tentação de virar o rosto para o outro lado, face às dificuldades e sofrimentos dos outros. Ver. Vejo ou olho para Jesus? O segundo verbo é tocar. Convidando os discípulos a tocá-lo, a ver que ele não é um fantasma – tocai-me! – Jesus indica-lhes, e a nós, que a relação com Ele e com os nossos irmãos não pode permanecer “à distância”: não existe um cristianismo à distância; não existe um cristianismo apenas ao nível do ver. O amor pede que se veja; mas, também, pede proximidade; pede contacto; pede a partilha da vida. O Bom Samaritano não se limitou a olhar para o homem que encontrou, meio morto, na berma do caminho: parou, inclinou-se, ligou as suas feridas, tocou-o, carregou-o no seu cavalo e levou-o para a estalagem. O mesmo seja feito com o próprio Jesus: amá-lo significa entrar numa comunhão de vida, uma comunhão com Ele. E chegamos ao terceiro verbo, comer, que exprime bem a nossa humanidade, na sua natural indigência, ou seja, a necessidade de nos alimentarmos para viver. Mas comer, quando o fazemos juntos, em família ou entre amigos, torna-se, também, uma expressão de amor, uma expressão de comunhão, de festa... Quantas vezes os Evangelhos nos mostram Jesus a viver esta dimensão de convívio! Também como Ressuscitado, com os seus discípulos. O Banquete eucarístico tornou-se o sinal emblemático da comunidade cristã. Comer, juntos, o Corpo de Cristo: este é o centro da vida cristã. Irmãos e irmãs: esta página do Evangelho diz-nos que Jesus não é um “fantasma”, mas uma Pessoa viva; que quando Jesus se aproxima de nós enche-nos de alegria, a ponto de não acreditar, e deixa-nos estupefactos, com aquele espanto que só a presença de Deus dá, porque Jesus é uma Pessoa viva. Antes de tudo, ser cristão não é uma doutrina ou um ideal moral: é a relação viva com Ele, com o Senhor Ressuscitado: vemo-Lo, tocamo-Lo, alimentamo-nos d’Ele e, transformados pelo seu Amor, vemos, tocamos e alimentamos os outros como irmãos e irmãs…” (Papa Francisco, Oração Regina Caeli,18 de Abril de 2021)

sábado, 13 de abril de 2024

EM DESTAQUE


 

*SEMANA MUNDIAL DE ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES

No 4º Domingo da Páscoa, Domingo do Bom Pastor, a Igreja celebra o Dia Mundial de Oração pelas Vocações. Por isso, de 14 a 21 de Abril, toda a Igreja é convidada a rezar pelas vocações, sobretudo as vocações sacerdotais, religiosas, missionárias e seculares. Esta data foi instituída pelo Papa Paulo VI, em 1964.
D. Vitorino Soares, Bispo-Auxiliar do Porto e Presidente da Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios, fez publicar a mensagem que transcrevemos:
“…Entre 14 e 21 de Abril, decorre a semana de Oração pelas Vocações. Assinalar a data não é só dar importância ao assunto, não é só reforçar a necessidade da oração para esta causa, mas é sobretudo um alerta e um despertar para a realidade das vocações na vida da Igreja e na vida de cada discípulo de Jesus, no contexto global do projeto de Deus.
Por isso, a prioridade é trazer a questão para o nosso dia-a-dia, para as nossas conversas, para as nossas catequeses, para as nossas celebrações, para a nossa pastoral. Não pode ser matéria tabu, ou apenas da exclusividade de alguns, ou então preocupação para um dia ou para uma semana. Daí a escolha do lema sugerido, a partir da Exortação Apostólica do Papa Francisco aos jovens, “Cristo vive”, no nº 286: “Para quem sou eu?”.
Antes de nos interrogarmos em relação ao presente — “Quem sou eu?” — interroguemo-nos quanto ao futuro: “Para quem sou eu?”. Deus quer que sejamos para Ele, mas quer também que sejamos para os outros. Assim se entende que as qualidades, as inclinações, os dons e os carismas, não são apenas para nós, mas também para os outros. Tudo o que é recebido, quando guardado, acaba por nos aprisionar, tende a isolar-nos e torna-nos infecundos.
Este ano, a Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios, avançou com a proposta deste lema, antes da divulgação da Mensagem do Santo Padre para o 61º Dia Mundial de Oração pelas Vocações. Os materiais oferecidos foram preparados em colaboração generosa com o Secretariado das Vocações da Diocese de Viana do Castelo, a quem muito agradecemos. A Mensagem do Papa Francisco: “Chamados a semear a esperança e a construir a paz”, ressalta a diversidade dos carismas e a importância da oração. Será sempre um suporte, não só para o IV Domingo da Páscoa, o Domingo do Bom Pastor, mas para alimentar a coragem dos jovens em deixar-se cativar por Jesus e a confiar-lhe as suas questões mais profundas, ao longo de todo o ano, respondendo à pergunta: “Para quem sou eu?”.
Se a questão das vocações estiver na ordem do dia, nenhum de nós se sentirá excluído em ser semeador de esperança e construtor de paz, no ambiente em que habita e no estado de vida em que se encontra…”
 



- MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA O DIA MUNDIAL DE ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES 2024: CHAMADOS A SEMEAR A ESPERANÇA E A CONSTRUIR A PAZ
 
Queridos irmãos e irmãs!
O Dia Mundial de Oração pelas Vocações convida-nos, cada ano, a considerar o precioso dom da chamada que o Senhor dirige a cada um de nós, seu povo fiel em caminho, pois dá-nos a possibilidade de tomar parte no seu projeto de amor e encarnar a beleza do Evangelho nos diferentes estados de vida. A escuta da chamada divina, longe de ser um dever imposto de fora – talvez em nome de um ideal religioso –, é antes o modo mais seguro que temos de alimentar o desejo de felicidade que trazemos no nosso íntimo: a nossa vida realiza-se e torna-se plena quando descobrimos quem somos, as qualidades que temos e o campo onde é possível pô-las a render, quando descobrimos que estrada podemos percorrer para nos tornarmos sinal e instrumento de amor, acolhimento, beleza e paz nos contextos onde vivemos.
Assim, este Dia proporciona-nos sempre uma boa ocasião para recordar, com gratidão, diante do Senhor o compromisso fiel, quotidiano e muitas vezes escondido daqueles que abraçaram uma vocação que envolve toda a sua vida. Penso nas mães e nos pais que não olham primeiro para si mesmos, nem seguem a tendência dum estilo superficial, mas organizam a sua existência cuidando das relações com amor e gratuidade, abrindo-se ao dom da vida e pondo-se ao serviço dos filhos e seu crescimento. Penso em todos aqueles que realizam, dedicadamente e em espírito de colaboração, o seu trabalho; naqueles que, em diferentes campos e de vários modos, se empenham por construir um mundo mais justo, uma economia mais solidária, uma política mais equitativa, uma sociedade mais humana, isto é, em todos os homens e mulheres de boa vontade que se dedicam ao bem comum. Penso nas pessoas consagradas, que oferecem a sua existência ao Senhor quer no silêncio da oração quer na atividade apostólica, às vezes na linha de vanguarda e sem poupar energias, servindo com criatividade o seu carisma e colocando-o à disposição de quantos encontram. E penso naqueles que acolheram a chamada ao sacerdócio ordenado, se dedicam ao anúncio do Evangelho, repartem a sua vida – juntamente com o Pão Eucarístico – pelos irmãos, semeiam esperança e mostram a todos a beleza do Reino de Deus.
Aos jovens, especialmente a quantos se sentem distantes ou olham a Igreja com desconfiança, gostaria de dizer: deixai-vos fascinar por Jesus, dirigi-Lhe as vossas perguntas importantes, através das páginas do Evangelho, deixai-vos desinquietar pela sua presença que sempre nos coloca, de forma benfazeja, em crise. Ele respeita mais do que ninguém a nossa liberdade, não Se impõe mas propõe-Se: dai-Lhe espaço e encontrareis a vossa felicidade no seu seguimento e, se vo-la pedir, na entrega total a Ele.
 
Um povo em caminho
 
A polifonia dos carismas e das vocações, que a Comunidade Cristã reconhece e acompanha, ajuda-nos a compreender plenamente a nossa identidade de cristãos: como povo de Deus em caminho pelas estradas do mundo, animados pelo Espírito Santo e inseridos como pedras vivas no Corpo de Cristo, cada um de nós descobre-se membro duma grande família, filho do Pai e irmão e irmã de seus semelhantes. Não somos ilhas fechadas em si mesmas, mas partes do todo. Por isso, o Dia Mundial de Oração pelas Vocações traz gravada a marca da sinodalidade: há muitos carismas e somos chamados a escutar-nos reciprocamente e a caminhar juntos para os descobrir discernindo aquilo a que nos chama o Espírito para o bem de todos.
Além disso, no momento histórico presente, o caminho comum conduz-nos para o Ano Jubilar de 2025. Caminhamos como peregrinos de esperança rumo ao Ano Santo, para, na descoberta da própria vocação e pondo em relação os diversos dons do Espírito, podermos ser no mundo portadores e testemunhas do sonho de Jesus: formar uma só família, unida no amor de Deus e interligada pelo vínculo da caridade, da partilha e da fraternidade.
Este Dia é dedicado de modo particular à oração para implorar do Pai o dom de santas vocações para a edificação do seu Reino: «Rogai ao dono da messe que mande trabalhadores para a sua messe» (Lc 10, 2). E, como sabemos, a oração é feita mais de escuta que de palavras dirigidas a Deus. O Senhor fala ao nosso coração e quer encontrá-lo aberto, sincero e generoso. A sua Palavra fez-Se carne em Jesus Cristo, que nos revela e comunica toda a vontade do Pai. Neste ano de 2024, dedicado precisamente à oração como preparação para o Jubileu, somos chamados a descobrir o dom inestimável de poder dialogar com o Senhor, de coração a coração, tornando-nos assim peregrinos de esperança, porque «a oração é a primeira força da esperança. Tu rezas e a esperança cresce, avança. Diria que a oração abre a porta à esperança. A esperança existe, mas com a minha oração abro a porta» (Francisco, Catequese, 20/V/2020).
 
Peregrinos de esperança e construtores de paz
 
Mas que significa ser peregrinos? Quem empreende uma peregrinação procura, antes de mais nada, ter clara a meta, e conserva-a sempre no coração e na mente. Mas, para atingir esse destino, é preciso ao mesmo tempo concentrar-se no passo presente: para o realizar, é necessário estar leve, despojar-se dos pesos inúteis, levar consigo apenas o essencial e esforçar-se cada dia por que o cansaço, o medo, a incerteza e a escuridão não bloqueiem o caminho iniciado. Por isso ser peregrino significa partir todos os dias, recomeçar sempre, reencontrar o entusiasmo e a força de percorrer as várias etapas do percurso que, apesar das fadigas e dificuldades, sempre abrem diante de nós novos horizontes e panoramas desconhecidos.
Este é precisamente o sentido da peregrinação cristã: estamos em caminho à descoberta do amor de Deus e, ao mesmo tempo, à descoberta de nós mesmos, através duma viagem interior, mas sempre estimulados pela multiplicidade das relações. Portanto, peregrinos porque chamados: chamados a amar a Deus e a amar-nos uns aos outros. Assim, o nosso caminho sobre esta terra nunca se reduz a uma labuta sem objetivo nem a um vaguear sem meta; pelo contrário, cada dia, respondendo à nossa chamada, procuramos realizar os passos possíveis rumo a um mundo novo, onde se viva em paz, na justiça e no amor. Somos peregrinos de esperança, porque tendemos para um futuro melhor e empenhamo-nos na sua construção ao longo do caminho.
Tal é, em última análise, a finalidade de cada vocação: tornar-se homens e mulheres de esperança. Como indivíduos e como comunidade, na variedade dos carismas e ministérios, todos somos chamados a «dar corpo e coração» à esperança do Evangelho neste mundo marcado por desafios epocais: o avanço ameaçador duma terceira guerra mundial aos pedaços, as multidões de migrantes que fogem da sua terra à procura dum futuro melhor, o aumento constante dos pobres, o perigo de comprometer irreversivelmente a saúde do nosso planeta. E a tudo isto vêm ainda juntar-se as dificuldades que encontramos diariamente com o risco de nos precipitar, às vezes, na resignação ou no derrotismo.
Por isso é decisivo, para nós cristãos, cultivar um olhar cheio de esperança no nosso tempo, para podermos trabalhar frutuosamente respondendo à vocação que nos foi dada ao serviço do Reino de Deus, Reino do amor, de justiça e de paz. Esta esperança – assegura-nos São Paulo – «não engana» (Rm 5, 5), porque se trata da promessa que o Senhor Jesus nos fez de permanecer sempre connosco e de nos envolver na obra de redenção que Ele quer realizar no coração de cada pessoa e no «coração» da criação. Tal esperança encontra o seu centro propulsor na Ressurreição de Cristo, que «contém uma força de vida que penetrou o mundo. Onde parecia que tudo morreu, voltam a aparecer por todo o lado os rebentos da ressurreição. É uma força sem igual. É verdade que muitas vezes parece que Deus não existe: vemos injustiças, maldades, indiferenças e crueldades que não cedem. Mas também é certo que, no meio da obscuridade, sempre começa a desabrochar algo de novo que, mais cedo ou mais tarde, produz fruto» (Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 276). E o apóstolo Paulo afirma ainda que fomos salvos na esperança (cf. Rm 8, 24). A redenção realizada na Páscoa dá a esperança, uma esperança certa, fiável, com a qual podemos enfrentar os desafios do presente.
Então ser peregrinos de esperança e construtores de paz significa fundar a própria existência sobre a rocha da ressurreição de Cristo, sabendo que todos os nossos compromissos, na vocação que abraçamos e levamos por diante, não caiem no vazio. Apesar dos fracassos e retrocessos, o bem que semeamos cresce de modo silencioso e nada pode separar-nos da meta última: o encontro com Cristo e a alegria de viver na fraternidade entre nós por toda a eternidade. Esta vocação final, devemos antecipá-la cada dia: a relação de amor com Deus e com os irmãos e irmãs começa desde agora a realizar o sonho de Deus, o sonho da unidade, da paz e da fraternidade. Que ninguém se sinta excluído desta chamada! Cada um de nós, no seu lugar próprio, no seu estado de vida, pode ser, com a ajuda do Espírito Santo, um semeador de esperança e de paz.
 
A coragem de se envolver
 
Por tudo isso, digo mais uma vez, como durante a Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa: «rise up – levantai-vos!» Despertemos do sono, saiamos da indiferença, abramos as grades da prisão em que por vezes nos encerramos, para que possa cada um de nós descobrir a própria vocação na Igreja e no mundo e tornar-se peregrino de esperança e artífice de paz! Apaixonemo-nos pela vida e comprometamo-nos no cuidado amoroso daqueles que vivem ao nosso lado e do ambiente que habitamos. Repito-vos: tende a coragem de vos envolver! Padre Oreste Benzi, apóstolo incansável da caridade, sempre da parte dos últimos e indefesos, repetia que ninguém é tão pobre que não tenha algo para dar, e ninguém é tão rico que não precise de receber alguma coisa. Levantemo-nos, pois, e ponhamo-nos a caminho como peregrinos de esperança, para que também nós, como fez Maria com Santa Isabel, possamos comunicar boas-novas de alegria, gerar vida nova e ser artesãos de fraternidade e de paz.

Roma, São João de Latrão, no IV Domingo de Páscoa, 21 de abril de 2024.

DA PALAVRA DO SENHOR



III DOMINGO DE PÁSCOA    

“…Meus filhos,
escrevo-vos isto, para que não pequeis.
Mas se alguém pecar,
nós temos Jesus Cristo, o Justo, como advogado junto do Pai.
Ele é a vítima de propiciação pelos nossos pecados,
e não só pelos nossos, mas também pelos do mundo inteiro.
E nós sabemos que O conhecemos,
se guardamos os seus mandamentos.
Aquele que diz conhecê-l’O
e não guarda os seus mandamentos
é mentiroso e a verdade não está nele.
Mas se alguém guardar a sua palavra,
nesse o amor de Deus é perfeito
…”  
(cf. 1 João 2, 1-5)

PALAVRA DO PAPA FRANCISCO

 


- na Audiência-Geral, Praça de São Pedro, Vaticano, Roma, no dia 10 de Abril de 2024

 

Caríssimos irmãos e irmãs, bom dia!

A catequese de hoje é dedicada à terceira das virtudes cardeais, ou seja, a fortaleza. Comecemos pela descrição dada pelo Catecismo da Igreja Católica: «A fortaleza é a virtude moral que, no meio das dificuldades, assegura a firmeza e a constância na prossecução do bem. Torna firme a decisão de resistir às tentações e de superar os obstáculos na vida moral. A virtude da fortaleza dá capacidade para vencer o medo, até da morte, e enfrentar a provação e as perseguições» (n. 1808). Assim diz o Catecismo da Igreja Católica sobre a virtude da fortaleza.

Eis, pois, a mais “combativa” das virtudes. Enquanto a primeira das virtudes cardeais, isto é, a prudência, estava principalmente associada à razão do homem; e enquanto a justiça encontrava a sua morada na vontade, esta terceira virtude, a fortaleza, é frequentemente ligada pelos autores escolásticos àquilo a que os antigos chamavam o “apetite irascível”. O pensamento antigo não imaginava um homem desprovido de paixões: seria uma pedra. E as paixões não são necessariamente o resíduo de um pecado; mas devem ser educadas, devem ser orientadas, devem ser purificadas com a água do Batismo, ou melhor, com o fogo do Espírito Santo. O cristão sem coragem, que não inclina as próprias forças para o bem, que não incomoda ninguém, é um cristão inútil. Pensemos nisto! Jesus não é um Deus diáfano e assético, que desconhece as emoções humanas. Pelo contrário. Perante a morte do amigo Lázaro, desata em lágrimas; e em algumas das suas expressões transparece o seu espírito apaixonado, como quando diz: «Vim lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já se tivesse ateado!» (Lc 12, 49); e diante do comércio no templo, reage vigorosamente (cf. Mt 21, 12-13). Jesus tinha paixão!

Mas vejamos agora uma descrição existencial desta virtude tão importante que nos ajuda a dar frutos na vida. Os antigos - tanto os filósofos gregos como os teólogos cristãos - reconheciam na virtude da fortaleza um duplo desenvolvimento, um passivo, outro ativo.

O primeiro ocorre dentro de nós mesmos. Há inimigos internos que devemos derrotar, e o seu nome é ansiedade, angústia, medo, culpa: todas estas forças que se agitam no nosso íntimo e que, em certas situações, nos paralisam. Quantos combatentes sucumbem até antes de começar o desafio! Porque desconhecem estes inimigos interiores. A fortaleza é, antes de tudo, uma vitória contra nós próprios. A maior parte dos medos que surgem dentro de nós são irrealistas e não se concretizam de forma alguma. É melhor então invocar o Espírito Santo e enfrentar tudo com fortaleza paciente: um problema de cada vez, como formos capazes, mas não sozinhos! O Senhor está ao nosso lado, se confiarmos nele e procurarmos sinceramente o bem. Então, em todas as situações, podemos contar com a Providência de Deus para nos amparar e blindar.

E depois o segundo movimento da virtude da fortaleza, desta vez de natureza mais ativa. Além das provações internas, existem os inimigos externos, que são as provações da vida, as perseguições, as dificuldades que não esperávamos e que nos surpreendem. Com efeito, podemos procurar prever o que nos vai acontecer, mas a realidade é, em grande medida, feita de acontecimentos imponderáveis e, neste mar, às vezes, o nosso barco é arrastado pelas ondas. Assim, a fortaleza faz de nós marinheiros resistentes, que não se amedrontam nem desanimam. 

A fortaleza é uma virtude fundamental porque leva a sério o desafio do mal no mundo. Alguns fingem que ele não existe, que tudo está bem, que a vontade humana não é por vezes cega, que as forças obscuras que trazem a morte não se debatem na história. Mas é suficiente folhear um livro de história, ou infelizmente até os jornais, para descobrir os atos nefastos de que somos em parte vítimas e em parte protagonistas: guerras, violências, escravatura, opressão dos pobres, feridas que nunca cicatrizaram e continuam a sangrar. A virtude da fortaleza faz-nos reagir e gritar “não”, um “não” categórico a tudo isto. No nosso Ocidente confortável, que diluiu um pouco tudo, transformando o caminho da perfeição num simples desenvolvimento orgânico, que não tem necessidade de lutar porque tudo lhe parece igual, às vezes sentimos uma saudável nostalgia dos profetas. Mas as pessoas importunas e visionárias são deveras raras. É preciso que alguém nos faça sair do lugar macio onde nos estabelecemos e nos obrigue a repetir resolutamente o nosso “não” ao mal e a tudo aquilo que conduz à indiferença. “Não” ao mal, “não” à indiferença; “sim” ao caminho, ao caminho que nos leva a progredir, e pelo qual devemos lutar.

Então, voltemos a descobrir no Evangelho a fortaleza de Jesus, aprendendo-a com o testemunho dos santos e santas. Obrigado! (cf. Santa Sé)


PARA REZAR



- SALMO 4

 

Refrão: Erguei, Senhor, sobre nós, a luz do vosso rosto.

 

Quando Vos invocar, ouvi-me, ó Deus de justiça.
Vós que na tribulação me tendes protegido,
compadecei-vos de mim
e ouvi a minha súplica.

 

Sabei que o Senhor faz maravilhas pelos seus amigos,
o Senhor me atende quando O invoco.
Muitos dizem: «Quem nos fará felizes?»

Fazei brilhar sobre nós, Senhor, a luz da vossa face.

Em paz me deito

e adormeço tranquilo,
porque só Vós, Senhor,

me fazeis repousar em segurança.

SANTOS POPULARES

 


BEATO LUCAS PASSI

 

Desde a sua juventude, o Padre Lucas Passi teve aspirações apostólico-missionárias; por isso, consagrou-se ao serviço do Senhor e foi uma autêntica testemunha da caridade evangélica, especialmente na formação humano-social e moral dos jovens.

O primeiro de onze filhos, Lucas nasceu em Bérgamo, no dia 22 de Janeiro de 1789, filho de Henrique e de Catarina Corner, uma nobre família veneziana, que o educaram nas virtudes cristãs; o seu pai orientou os seus estudos escolares e preparou-o para o sacramento da Confissão e para fazer a Primeira Comunhão.

No final do século XVIII, quando Bérgamo entrou, abruptamente, em contacto com as ideias revolucionárias francesas, o conde Henrique, para proteger os seus filhos, mudou-se com a família para a sua casa de campo, em Calcinate. Aqui, ficava também o palácio do seu tio, Monsenhor Marco Célio Passi, que em 1798, o transformou em residência permanente dos seminaristas de Bérgamo, quando o Seminário foi extinto, pelas autoridades. O seu tio, vigário-geral da diocese, foi um exemplo brilhante para os seus sobrinhos: três deles seguiram-no na vida sacerdotal: Lucas, Marco Célio e José.

Lucas e Marco, quase da mesma idade, distinguiram-se, no Seminário, pela sua piedade, devoção a Nossa Senhora, empenho no estudo, observância das regras, exercício da correcção fraterna entre os companheiros e fervorosa vida espiritual.

Ainda diácono, Lucas iniciou uma intensa actividade apostólica, na sua paróquia de Calcinate, onde lhe foi confiado o cargo de responsável pela “Confraria do Santíssimo Sacramento". Na prolongada adoração e contemplação da Eucaristia e do mistério de Cristo Redentor do homem, “a urgência de testemunhar e de evangelizar” inflamaram-se nele; por isso, com a alma e o coração de um pastor ardente de caridade sacerdotal, propôs-se dedicar-se ao ministério da pregação. E, tendo dado provas particulares daquela paixão e arte de pregar - que o tornariam um dos grandes missionários apostólicos da sua época - os seus superiores consideraram-no apto para proferir alguns sermões, mesmo fora da Diocese de Bérgamo, já nos anos 1811-1812.

No dia 13 de Março de 1813, foi ordenado sacerdote.

Em 16 de Maio de 1815, emitiu os votos de "discípulo" no "Colégio Apostólico" de Bérgamo, que reunia a nata dos sacerdotes diocesanos. Os doze membros da associação obrigaram-se a viver segundo o espírito dos Apóstolos, fazendo voto de obediência, pobreza de espírito e compromisso pela salvação dos irmãos, “por puro amor e glória de Deus”.

O jovem Padre Lucas sentiu, fortemente, este dever, o que o levou a pregar em muitas cidades e vilas da Península Itálica: em 1836, foi-lhe atribuído o título de “Missionário Apostólico”, pelo Papa Gregório XVI.

No seu ministério sacerdotal, o Padre Lucas revelou-se, também, um impulsionador dos apóstolos leigos; um brilhante animador e coordenador do desejo natural dos jovens para a formação de grupos que os aproximasse e da fé e os educasse na prática dos bons costumes.

Em Calcinate, reformulou o compromisso da Confraria do Santíssimo Sacramento, confiando a cada uma das associadas, algumas meninas, vizinhas das suas casa, para que cuidassem delas com amor, instruindo-as na fé, apoiando-as nas virtudes ou corrigindo-as, se necessário, dos seus defeitos e fazendo-as tornar-se pequenas Apóstolas, entre os seus pares. Assim, em 1815, nasceu a Pia Obra de Santa Doroteia para a educação cristã das meninas: uma obra verdadeiramente inovadora e única no seu género a nível pastoral, capaz de envolver numerosos fiéis de uma paróquia ou diocese, sensíveis ao dever de cada cristão de “cuidar” das jovens, para as formar na honestidade da vida. Com as mesmas intenções, fundou a Pia Obra de São Rafael para a educação dos rapazes.

O Padre Lucas, auxiliado pelo seu irmão, Padre Marco, fundava as duas associações, de acordo com cada pároco, no final das “Missões Quaresmais”, e onde quer que fosse para fazer as pregações. Acima de tudo, a Obra de Santa Doroteia teve uma ampla difusão e muitos Bispos, Sacerdotes e leigos zelosos, maravilhados com os frutos de bem que produzia, apoiaram-na com admirável empenho.

O Padre Lucas procurou criar uma maravilhosa rede de amizade entre os jovens, seguindo o exemplo do seu Padroeiro Mártir, num intercâmbio mútuo de ajuda e promoção que, muitas vezes, trouxe notáveis ​​benefícios espirituais também para as suas famílias.

À Obra de Santa Doroteia pertenceram (e pertencem) jovens que cuidam das meninas “com o santíssimo propósito de incutir nos seus corações o santo temor de Deus e treiná-las nos bons costumes”, trabalhando portanto, num clima de amizade sincera; corrigir caritativamente os seus defeitos; dar-lhes advertências adequadas e conselhos sábios; fazer com que frequentem os sacramentos; cumpram os seus deveres e sejam dóceis para com os seus superiores (cf. L. PASSI, Pia Opera di S. Dorotea direto para formar os trajes das meninas, IV edição Lucca 1854, p. 17).

Em 1838, o Padre Lucas Passi fundou o Instituto das Irmãs de Santa Doroteia, em Veneza, com o objectivo principal de ser a “alma” e sustento da Pia Obra de Santa Doroteia. A cofundadora e primeira superiora do Instituto foi a Madre Raquel Guardini.

O Padre Lucas também promoveu obras sociais de grande utilidade pública. De modo particular, dedicou parte do seu tempo a formar um grupo de jovens pobres, especialmente de agricultores. Para isso, publicou, em 1836, o Projecto Moral e Económico, e, em 1838, fundou a Ordem Terceira de Santa Doroteia, em Calcinate, conhecidas como "Freiras Camponesas", para formar meninas abandonadas no trabalho feminino e agrícola, compatível com a sua idade.

Com zelo incansável, o Padre Lucas incutiu, nos membros da Obra e nas Irmãs, o seu desejo ardente de comunicar aos seus irmãos “o fogo do amor de Deus” que dele transbordava. Gostava de repetir: “Quem não queima não acende” e estava firme na convicção de que “é preciso dar até a vida pela salvação de uma alma”. Incansável até ao fim, faleceu em Veneza, no dia 18 de Abril de 1866.

O seu carisma continua vivo, na missão realizada pelas Irmãs de Santa Doroteia - em Itália, na América Latina (Bolívia, Colômbia, Brasil), na África (Burundi, República Democrática do Congo, Camarões, Madagáscar) e na Albânia - e na alma e na actividade dos numerosos Cooperadores da Obra de Santa Doroteia espalhados pelo mundo, que se encarregam da formação cristã das jovens gerações, acompanhando o seu crescimento com um amor entrelaçado de misericórdia e de esperança.

O Padre Lucas Passi foi beatificado, no dia 13 de Abril de 2013, pelo Papa Francisco.

A sua memória litúrgica é celebrada no dia 18 de Abril.


domingo, 7 de abril de 2024

EM DESTAQUE



*II DOMINGO DE PÁSCOA
- DOMINGO DA MISERICÓRDIA

No segundo Domingo da Páscoa, a Igreja celebra a Festa da Divina Misericórdia. Esta festividade foi instituída no ano 2000, pelo Papa João Paulo II, para toda a Igreja, através de um decreto da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.
Esta festa era um desejo do próprio Jesus, revelado a Santa Faustina. No seu diário, ela escreveu a seguinte revelação de Jesus:“…Nenhuma alma terá justificação enquanto não se dirigir, com confiança, à Minha misericórdia. E é por isso que o primeiro domingo depois da Páscoa deve ser a Festa da Misericórdia. Nesse dia, os sacerdotes devem falar às almas desta Minha grande e insondável misericórdia”.
A Festa da Divina Misericórdia será lembrada em todas as missas do domingo.
 
Transcrevemos, a propósito, uma reflexão do Bispo de Apucarana, Brasil:
“…O amor de Deus pela humanidade é visível, palpável e real. Da criação do mundo aos nossos dias, o Senhor não se cansa de nos atrair a Si mesmo e ao seu Divino Coração, oferecendo-nos a sua infinita Misericórdia. Deus é Amor, no sentido mais verdadeiro que se possa sentir e partilhar. Um Amor que ultrapassa o nosso entendimento, mas que se expressa em sinais, gestos, palavras e graças abundantes. O dom da fé propicia, a cada um de nós, essa experiência e vivência de amar e sermos amados por Deus, mesmo quando menos merecemos. Na Vida, Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus pudemos experienciar toda bondade e compaixão do Pai para connosco e, para que possamos interiorizar essa grande experiência de amor e encontro com Cristo, a Igreja estende esses dias de júbilo a toda essa semana: estamos a viver a Semana Pascal, que culmina no Domingo da Divina Misericórdia. Instituído oficialmente pelo Papa São João Paulo II, no ano 2000, e comemorada imediatamente no primeiro domingo que sucede ao da Ressurreição, a Festa da Divina Misericórdia deseja fazer-nos imergir directamente na Fonte Única e repleta de compaixão e bondade: o Coração Misericordioso de Cristo. É impossível, para nós, alcançarmos a profundidade do Amor que Deus dispõe, gratuitamente, para que permaneçamos n’Ele. O Senhor é compassivo, paciente e acolhedor; é um Deus que ama incondicionalmente cada um de nós, a ponto de nos salvar pelo sacrifício do seu Filho, na Cruz. Oferece-se a Si mesmo, em Cristo Jesus, para que retornemos a Ele; para que não nos percamos nos tantos caminhos que o mundo oferece, direcionando-nos para longe d’Ele. A Festa da Divina Misericórdia relembra aos homens a presença amorosa de Cristo, no meio de nós, Vivo e Ressuscitado, caminhando connosco em todos os momentos, desejoso de que estejamos, cada vez mais, unidos ao Pai, numa proximidade tal que supra as nossas necessidades reais de encontramos o verdadeiro Amor. É desejo do Filho que nos aproximemos do Pai; que tomemos posse da Misericórdia Divina e da graça imensa, derramada sobre aqueles que O buscam. Do Coração de Cristo traspassado pela lança, jorrou Água e Sangue. Água que purifica, restaura e nos faz comprometidos com as promessas do Baptismo, que renovamos na noite Santa da Vigília Pascal. Sangue que, penetrando o mais profundo da Terra, tornou-nos merecedores da Salvação Eterna. “Ó Sangue e Água que jorrastes do Coração de Jesus, como fonte de Misericórdia para nós, eu confio em Vós!” Sabemos que fomos salvos por compaixão e bondade de Deus, conforme nos fala a Sagrada Escritura: “Porque é gratuitamente que fostes salvos, mediante a fé. Isso não provém dos vossos méritos, mas é puro dom de Deus” (Ef 2,8). Temos um Deus Misericordioso que se revela paciente, bondoso, compassivo e repleto de ternura, sempre pronto a proteger, buscar, perdoar e, como na parábola do Filho pródigo, Deus é o Pai que festeja a volta do filho que estava distante. Se soubéssemos o quanto somos dependentes e necessitados da Misericórdia do Pai, não tardaríamos a tomar posse de tão grande Graça. Jesus Ressuscitado é fonte de amor e de perdão, de acolhimento e de Misericórdia. N’Ele podemos ver a chama ardente do amor misericordioso que se consome pela nossa salvação. Voltemo-nos para a Fonte Cristalina, onde jorram amor e compaixão infinitos; deixemo-nos inundar pelos raios misericordiosos do Salvador. Que sejamos homens e mulheres corajosos e decididos; que não tenhamos receio de irmos até a Fonte que é Jesus e nos encharcarmos com a sua infinita Misericórdia!...” (Dom Carlos José, Bispo de Apucarana, Brasil)

DA PALAVRA DO SENHOR

 


II DOMINGO DE PÁSCOA        

“…A multidão dos que haviam abraçado a fé
tinha um só coração e uma só alma;
ninguém chamava seu ao que lhe pertencia,
mas tudo entre eles era comum.
Os Apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus
com grande poder
e gozavam todos de grande simpatia.
Não havia entre eles qualquer necessitado,
porque todos os que possuíam terras ou casas
vendiam-nas e traziam o produto das vendas,
que depunham aos pés dos Apóstolos.
Distribuía-se então a cada um conforme a sua necessidade…”

                                                (cf. Actos dos Apóstolos 4, 32-35)

 


PALAVRA DO PAPA FRANCISCO

 


- na Audiência-Geral, Praça de São Pedro, Vaticano, Roma, no dia 3 de Abril de 2024

 

Caríssimos irmãos e irmãs, bom dia!

Eis-nos na segunda virtude cardeal: hoje falaremos da justiça. É a virtude social por excelência. O Catecismo da Igreja Católica define-a assim: «A virtude moral que consiste na vontade constante e firme de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido» (n. 1807). Eis em que consiste a justiça. Muitas vezes, quando se fala de justiça, cita-se também o lema que a representa: “unicuique suum”, ou seja, “a cada um o que é seu”. É a virtude do direito, que procura regular com equidade as relações entre as pessoas.

É representada, alegoricamente, pela balança, dado que se propõe “acertar as contas” entre os homens, sobretudo quando elas correm o risco de ser falsificadas por algum desequilíbrio. A sua finalidade é que, na sociedade, cada um seja tratado de acordo com a própria dignidade. Mas já os antigos mestres ensinavam que, para isso, são necessárias, também, outras atitudes virtuosas, como a benevolência, o respeito, a gratidão, a afabilidade e a honestidade: virtudes que contribuem para a boa convivência entre as pessoas. A justiça é uma virtude para a boa convivência entre as pessoas.

Todos nós compreendemos que a justiça é fundamental para a convivência pacífica na sociedade: um mundo sem leis que respeitem os direitos é um mundo no qual é impossível viver; assemelhar-se-ia a uma selva. Sem justiça, não há paz. Sem justiça, não há paz. Com efeito, se a justiça não for respeitada, geram-se conflitos. Sem justiça, consagra-se a lei da prevaricação do forte sobre os fracos, e isto não é justo!

Mas, a justiça é uma virtude que age tanto no grande, como no pequeno: não diz respeito apenas às salas dos tribunais, mas também à ética que distingue a nossa vida diária. Estabelece relações sinceras com os outros: actua o preceito do Evangelho, segundo o qual o falar cristão deve ser: «“Sim, sim”, “Não, não”; o resto vem do Maligno» (Mt 5, 37). As meias-verdades; os discursos subjectivos que procuram enganar o próximo; as reticências que ocultam as verdadeiras intenções não são atitudes conformes com a justiça. O homem justo é recto, simples e directo; não usa máscaras; apresenta-se como é; diz a verdade. A palavra “obrigado” está frequentemente nos seus lábios: sabe que, por mais que nos esforcemos por ser generosos, somos sempre devedores para com o próximo. Se amamos, é também porque primeiro fomos amados.

Na tradição, podem-se encontrar inúmeras descrições do homem justo. Vejamos algumas: o homem justo tem veneração pelas leis e respeita-as, consciente de que elas constituem uma barreira que protege os indefesos da prepotência dos poderosos; o homem justo não se preocupa apenas com o seu bem-estar individual, mas deseja o bem de toda a sociedade, por isso, não cede à tentação de pensar só em si mesmo e de cuidar dos seus assuntos, por mais legítimos que sejam, como se fossem a única coisa que existe no mundo. A virtude da justiça torna evidente - e coloca a exigência no coração – que, para mim, não pode haver verdadeiro bem, se não houver também o bem de todos. 

Por isso, o homem justo vela sobre o próprio comportamento para não lesar os outros: quando erra, pede desculpa. O homem justo pede sempre perdão. Em certas situações, chega a sacrificar um bem pessoal para o pôr à disposição da comunidade. Deseja uma sociedade ordenada, onde sejam as pessoas a dar brilho aos cargos, não os cargos a dar brilho às pessoas. Abomina as preferências e não troca favores. Ama a responsabilidade e é exemplar na vida e na promoção da legalidade. Com efeito, ela é o caminho para a justiça; o antídoto contra a corrupção: como é importante educar as pessoas, especialmente os jovens, na cultura da legalidade! É o caminho para prevenir o cancro da corrupção e para debelar a criminalidade, removendo o solo debaixo dos seus pés.

Além disso, o homem justo evita comportamentos nocivos como a calúnia, o falso testemunho, a fraude, a usura, a falsidade e a desonestidade. O homem justo mantém a palavra dada; devolve o que lhe foi emprestado; reconhece o salário correcto a todos os operários - o homem que não reconhece o salário correcto aos operários não é justo, é injusto - tem o cuidado de não pronunciar juízos temerários em relação ao próximo; defende a reputação e o bom nome dos outros.

Nenhum de nós sabe se, no nosso mundo, os homens justos são numerosos ou raros como pérolas preciosas. Mas, são homens que atraem a graça e as bênçãos, tanto para si como para o mundo em que vivem. Não são perdedores em comparação com aqueles “astutos e espertos”, porque, como diz a Escritura, «quem procura justiça e amor encontrará vida e glória» (Pr 21, 21). Os justos não são moralistas que se revestem de censores, mas pessoas íntegras que «têm fome e sede de justiça» (Mt 5, 6); sonhadores que acalentam, no coração, o desejo de uma fraternidade universal. E deste sonho, especialmente hoje, todos nós temos grande necessidade. Devemos ser homens e mulheres justos, e é isto que nos tornará felizes! (cf. Santa Sé)


PARA REZAR

 


- SALMO 117

 

Refrão: Aclamai o Senhor porque Ele é bom;
             o Seu amor é para sempre!
          

Diga a casa de Israel:
é eterna a sua misericórdia.
Diga a casa de Aarão:
é eterna a sua misericórdia.
Digam os que temem o Senhor:
é eterna a sua misericórdia.
 
A mão do Senhor fez prodígios,
A mão do Senhor foi magnífica.
Não morrerei, mas hei-de viver,
para anunciar as obras do Senhor.
Com dureza me castigou o Senhor,
mas não me deixou morrer.
 
A pedra que os construtores rejeitaram
tornou-se pedra angular.
Tudo isto veio do Senhor:
é admirável aos nossos olhos.
Este é o dia que o Senhor fez:
exultemos e cantemos de alegria.

SANTOS POPULARES

 


BEATO DOMINGOS DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO

 

Três meses antes da sua morte, o Padre Domingos do Santíssimo Sacramento escreveu, numa carta enviada a um dos seus irmãos: “O Senhor quer com Ele alguns na flor da idade; para outros, reserva grandes obras e, portanto, grandes méritos. O que importa é implementar os planos de Deus e que a Sua vontade seja feita, em tudo”.

Quando ele morreu, tinha apenas 26 anos.

Domingos Iturrate Zubero nasceu no dia 11 de Maio de 1901, na aldeia Biteriño de Dima, Vizcaya, perto de Bilbao, Espanha. Os seus pais, Simão Iturrate e Maria Zubero, eram cristãos fervorosos e deram a Domingos uma sólida educação religiosa e moral. Fez a Primeira Comunhão aos 10 anos. Mas desde os sete anos criou o hábito de se confessar todos os meses - segundo um costume da época - sem esperar pela Primeira Comunhão. Cresceu obediente aos pais; frequentou a escola da aldeia e ajudava nas tarefas domésticas e no campo. Particularmente interessado no catecismo, foi incumbido, pelo pároco, de ensiná-lo aos mais pequenos.

Os seus biógrafos sublinham que ele tinha um carácter sensível, mas com tendência para a raiva, como os bascos da sua região. Foi acólito na sua paróquia e assistia à missa não só nos domingos e feriados, mas também nos dias de semana. Tendo sentido, dentro de si, o chamamento à vida religiosa, teve o consentimento da sua mãe; o seu pai começou por se opor: tinha depositado nele assuas esperanças: sendo o filho primogênito, seria o seu sustentáculo e o herdeiro dos bens da família. Mas, como Domingos foi firme na sua escolha, por fim o seu pai também concordou. Depois de ter recebido a confirmação, em 26 de Agosto de 1913, Domingos entrou, no dia 30 de Setembro de 1914, no colégio-aspirantado dos Padres Trinitários de Algorta, Cantábria, para realizar os estudos adequados.

Em 11 de Dezembro de 1917, vestiu o hábito dos Trinitarianos, iniciando o noviciado no convento-santuário da “Virgem Bem Aparecida”. A Ordem dos Trinitários ou da Santíssima Trindade, foi fundada por São João de Matha e São Félix de Valois, em Cerfroid, Meaux, e aprovado pelo Papa Inocêncio III, em 1198, com o objectivo de resgatar os cristãos escravizados pelos muçulmanos.
O trabalho da Ordem da Santíssima Trindade, tão meritório, deu, ao longo dos séculos, liberdade a mais de 900.000 cristãos; mas, a Ordem, depois de ter alcançado grande esplendor no século XV, declinou rapidamente. Em 1578, o Papa Gregório XIII aprovou a reforma implementada pela Ordem Trinitária. São João Baptista da Conceição, falecido em 1613), lutou para trazer a Ordem de volta à austeridade original. Muitos Trinitarianos reagiram mal às suas propostas e dividiram-se, por isso, em duas ‘famílias’: os 'Descalços' (os reformistas) e os 'Calçados'. Em 1609, a Ordem tornou-se mendicante e, depois de ter sofrido os golpes da Reforma Protestante e da Revolução Francesa - com muitas supressões de Casas e Conventos - voltou a florescer, lentamente, apenas no final do século. XIX. Hoje, dedica-se ao apostolado entre os fiéis e às missões.

O jovem Domingos do Santíssimo Sacramento - este é o nome que assumiu ao professar na Ordem da Santíssima Trindade - comprometeu-se, com todas as suas forças, na sua formação espiritual. Mais tarde, veio a saber-se um dos seus grandes segredos: nos anos anteriores ao tempo do noviciado e, com mais intensidade, no ano do noviciado, Domingos passou pela experiência sofredora da chamada "noite escura do espírito", que o mergulhou na dúvida sobre a sua vocação, levando à aridez de espírito, à falta de satisfação nas suas acções, ao medo, à amargura e à ansiedade. Mas, com a ajuda de Nossa Senhora, a quem se confiou, quando fez a sua profissão religiosa temporária, em 14 de Dezembro de 1918, redescobriu a sua tranquilidade interior e a serenidade de espírito.

Depois de completar o primeiro ano de filosofia, em Outubro de 1919, foi enviado para Roma, onde continuou os estudos filosóficos, na Pontifícia Universidade Gregoriana; aí, obteve a licenciatura em filosofia, em 3 de Julho de 1922.

No dia 23 de Outubro de 1922, fez os votos perpétuos, no convento romano de São Carlos, em Quatro Fontes, onde estava hospedado. Continuou os estudos em teologia, formando-se, também, nesta ciência, em 26 de Julho de 1926.

Entretanto, foi ordenado sacerdote na Basílica dos Doze Apóstolos, em 9 de Agosto de 1925, celebrando a sua Missa Nova, no dia 15 de Agosto. No Seminário, exerceu a função de “assistente” do Padre Mestre, para a observância da disciplina.

Ansioso por ser missionário em terras pagãs, explicou ao Padre Provincial a ideia de abrir uma missão da Ordem em África ou na América Latina, oferecendo-se para este trabalho. Mas, os seus superiores, avaliando as suas excelentes qualidades, foi nomeado, pelo Capítulo Geral de 1926, Mestre formador dos Estudantes Trinitários.

No início de Junho de 1926, porém, o Padre Domingos começou a sentir os primeiros sintomas da tuberculose pulmonar, tão difundida naquela época. Foi enviado para Rocca di Papa, junto do Lago Albano, a cerca de 30 Km de Roma, com a esperança de que o ar puro das montanhas pudesse beneficiá-lo; mas, infelizmente, a doença já estava muito avançada.

Após sete anos de permanência em Roma, foi transferido, com urgência, para Algorta, em Espanha, onde chegou, em 6 de Setembro de 1926, depois de ter parado em Lourdes, para rezar a Nossa Senhora.

Depois de consultar vários médicos, foi para o convento de Belmonte, em Cuenca. O Padre Domingos compreendeu que todos os seus projectos sacerdotais e missionários não seriam mais realizados, mas aceitou a vontade de Deus, sem qualquer sentimento de revolta.

O Padre Domingos do Santíssimo Sacramento (Domingos Iturrate Zubero) faleceu no dia 8 de Abril de 1927, no Convento de Belmonte. O jovem sacerdote trinitário gozou, imediatamente, da fama de santidade: para a Causa de beatificação foram apresentados cerca de 2.500 relatórios de curas, atribuídas à sua intercessão.

Em 1974, os seus restos mortais foram transladados para Algorta, onde repousam na paróquia do Redentor, dos Religiosos Trinitários.

Foi beatificado, no dia 30 de Outubro de 1983, pelo Papa João Paulo II. Disse o Papa, na homilia da Missa da Beatificação: “…O religioso trinitário Domingos Iturrate Zubero, nasceu em terras da Espanha, no País Basco. A sua breve existência, de apenas 26 anos, contém uma rica mensagem que se concretiza na tensão constante para a santidade. Nesse caminho há algumas características peculiares, que desejo apresentar em síntese.

O fiel cumprimento da vontade de Deus é uma meta que atinge cotas muito altas, sobretudo nos últimos anos da sua vida. Por isso, em 1922 escreverá nas suas anotações espirituais: "A nossa conformidade com a vontade divina há-de ser total, sem reservas e constante". Animado deste espírito, e com o consentimento do seu director espiritual, faz voto de "cumprir sempre o que conhecer ser mais perfeito", propondo-se além disso "não negar nada a Deus Nosso Senhor, mas seguir, em tudo, as suas santas inspirações, com generosidade e alegria".

Como religioso trinitário, procurou viver segundo os dois grandes eixos da espiritualidade da sua ordem: o mistério da Santíssima Trindade e a obra da redenção, que nele se fazia vivência de intensa caridade. E como sacerdote, teve uma clara ideia da sua identidade como "mediador entre Deus e os homens", ou "representante do Sacerdote Eterno, Cristo". Era tudo isto que o chamava a viver, cada dia, a Eucaristia como um acto de pessoal imolação, unido à Suprema Vítima, em favor dos homens.

Não menos notável foi a presença de Maria na trajectória espiritual do novo Beato, desde a infância até à morte. Uma devoção que ele viveu com grande intensidade e que procurou inculcar sempre nos outros, convencido como estava de "quanto bom e seguro é esse caminho: ir ao Filho por meio da Mãe".

Estes poucos traços põem diante de nós a força de um modelo e exemplo válidos para hoje. Com o seu testemunho de fidelidade ao chamamento interior e de resposta generosa à sua vocação, o Padre Domingos mostra aos nossos dias um caminho a seguir: o de uma fidelidade eclesial que plasma a identidade interior e que conduz à santidade…”

A memória litúrgica do Beato Domingos Iturrate Zubero é celebrada no dia 8 de Abril.


domingo, 31 de março de 2024

EM DESTAQUE

 


*DOMINGO DA RESSURREIÇÃO

- PÁSCOA DO SENHOR

 

A Igreja Católica celebra, todos os anos, a Festa da Páscoa, a mais importante de todas as Festas da liturgia cristã: memória da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. A Igreja celebra a vitória de Jesus Cristo sobre o pecado e sobre a morte.
O nome ‘Páscoa’ quer dizer passagem e vem do hebraico ‘pessach’. Para o povo hebreu, a páscoa significava o fim da escravidão do Egipto e o início da libertação, marcada pela travessia do Mar Vermelho, que se abrira dando passagem ao povo de Deus, sob a orientação de Moisés.
Para os cristãos, a Páscoa é desafio a uma vida nova, renascida no dom de Cristo na Cruz e iluminada pela luz da Ressurreição.
Celebrar, hoje, a Páscoa de Jesus Cristo, é proclamar a Boa Nova da Salvação. O sepulcro está vazio, Ele não está lá, Ressuscitou…
“…A Páscoa hebraica, memorial da libertação da escravidão do Egipto, previa anualmente o rito da imolação do cordeiro, um cordeiro por família, segundo a prescrição de Moisés. Na sua paixão e morte, Jesus revela-Se como o Cordeiro de Deus «imolado» na cruz para tirar os pecados do mundo. Foi morto precisamente na hora em que era costume imolar os cordeiros no Templo de Jerusalém. O sentido deste seu sacrifício tinha-o antecipado Ele, mesmo durante a Última Ceia, substituindo-Se – sob os sinais do pão e do vinho – aos alimentos rituais da refeição na Páscoa hebraica. Podemos, assim, afirmar com verdade que Jesus levou a cumprimento a tradição da antiga Páscoa e transformou-a na Sua Páscoa…” disse o Papa Bento XVI, no Domingo de Páscoa, em 12 de Abril de 2009.

 


ORAÇÃO DA PÁSCOA 2024

Senhor Jesus Ressuscitado:
O nosso coração acolhe a alegria da Tua Páscoa.
Na Tua morte e ressurreição, temos a Vida.
Venceste a morte pelo Amor… Dás a Vida, pelo amor…
Olha o mundo vergado pelo sofrimento;
dominado pelo ódio e pela vingança;
desesperado e sem rumo;
incapaz de abrir caminhos de paz e de concórdia.
Na Tua festa, sentimos a dor dos irmãos
que não podem cantar-Te hinos de glória.
Por isso, confiamo-nos a Ti,
prostrados, diante da Tua Cruz,
pelo peso da nossa culpa:
Ampara as famílias desoladas pela guerra,
pela fome e pela doença,
pela divisão e pelo medo,
pela pobreza e pelo abandono.
Faz nascer para elas o Sol da esperança;
o sorriso da caridade e da partilha;
a alegria que dissipa os gritos da morte
e do terror que bate à sua porta.
Que a Tua justiça reine em toda a terra.
Obrigado pela Paz;
pelo amor repartido em gestos de bondade;
pela coragem do testemunho;
pela certeza da Vida que nos ofereces.
Entra na nossa casa; abençoa a nossa família.
Na Tua cruz, faz-nos renascer em cada dia.
Amém

DA PALAVRA DO SENHOR

 


DOMINGO DE PÁSCOA        

“…No primeiro dia da semana,
Maria Madalena foi, de manhãzinha, ainda escuro, ao sepulcro
e viu a pedra retirada do sepulcro.
Correu, então, e foi ter com Simão Pedro
e com o discípulo predileto de Jesus e disse-lhes:
«Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde O puseram».
Pedro partiu com o outro discípulo e foram ambos ao sepulcro.
Corriam os dois juntos, mas o outro discípulo antecipou-se,
correndo mais depressa do que Pedro, e chegou primeiro ao sepulcro.
Debruçando-se, viu as ligaduras no chão, mas não entrou.
Entretanto, chegou também Simão Pedro, que o seguira.
Entrou no sepulcro e viu as ligaduras no chão
e o sudário que tinha estado sobre a cabeça de Jesus,
não com as ligaduras, mas enrolado à parte.
Entrou também o outro discípulo que chegara primeiro ao sepulcro:
viu e acreditou.
Na verdade, ainda não tinham entendido a Escritura,
segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos…”
(cf. João 20, 1-9)


PALAVRA DO PAPA FRANCISCO



- na Audiência-Geral, Sala Paulo VI, Vaticano, Roma, no dia 27 de Março de 2024
 
Caríssimos irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje, a audiência estava prevista para a Praça mas, devido à chuva, foi transferida aqui para dentro. É verdade que a Sala vai estar um pouco apinhada, mas pelo menos não nos molharemos! Obrigado pela vossa paciência!
No domingo passado, ouvimos a narração da Paixão do Senhor. Aos sofrimentos que padece, Jesus responde com uma virtude que, embora não esteja contemplada entre as tradicionais, é deveras importante: a virtude da paciência. Trata-se da suportação do que se sofre: não é por acaso que paciência tem a mesma raiz de paixão. E é precisamente na Paixão que sobressai a paciência de Cristo, que com mansidão e docilidade aceita ser preso, esbofeteado e condenado injustamente; diante de Pilatos não recrimina; suporta os insultos, os escarros e a flagelação dos soldados; suporta o peso da cruz; perdoa àqueles que o pregam no madeiro e, na cruz, não responde às provocações, mas oferece misericórdia. Esta é a paciência de Jesus! Tudo isto nos diz que a paciência de Jesus não consiste numa resistência estoica ao sofrimento, mas é o fruto de um amor maior.
O Apóstolo Paulo, no chamado “Hino à caridade” (cf. 1 Cor 13, 4-7), une estreitamente amor e paciência. Com efeito, descrevendo a primeira qualidade da caridade, recorre a uma palavra que se traduz por “magnânima”, “paciente”. A caridade é magnânima, é paciente. Ela exprime um conceito surpreendente, que aparece muitas vezes na Bíblia: Deus, perante a nossa infidelidade, mostra-se «lento para a ira» (cf. Êx 34, 6; cf. Nm 14, 18): em vez de desabafar o seu desgosto pelo mal e pelo pecado do homem, revela-se maior, pronto a recomeçar sempre com uma paciência infinita. Este é, para Paulo, o primeiro traço do amor de Deus que, perante o pecado, propõe o perdão. Mas não só: é o primeiro traço de todo o grande amor, que sabe responder ao mal com o bem, que não se fecha na ira nem no desânimo, mas persevera e relança. A paciência que recomeça! Por isso, na raiz da paciência está o amor, como diz Santo Agostinho: «Uma pessoa é tanto mais forte na suportação de qualquer mal, quanto maior for o amor de Deus nela» (De patientia, XVII).
Poder-se-ia então dizer que não há melhor testemunho do amor de Jesus, do que encontrar um cristão paciente. Mas pensemos também em quantas mães e pais, trabalhadores, médicos e enfermeiros, doentes, que todos os dias, no escondimento, agraciam o mundo com uma santa paciência! Como afirma a Escritura, «é melhor a paciência do que a força de um herói» (Pr 16, 32). No entanto, devemos ser honestos: muitas vezes falta-nos a paciência. No dia-a-dia todos somos impacientes. Precisamos dela como da “vitamina essencial” para ir em frente, mas impacientamo-nos instintivamente e respondemos ao mal com o mal: é difícil manter a calma, controlar os instintos, conter as más respostas, desarmar disputas e conflitos em família, no trabalho ou na comunidade cristã. A resposta chega imediatamente, não somos capazes de ser pacientes.
Recordemos, porém, que a paciência não é apenas uma necessidade, é uma vocação: se Cristo é paciente, o cristão é chamado a ser paciente. E isto faz-nos ir contra a corrente em relação à mentalidade generalizada de hoje, na qual dominam a pressa e o “tudo já”; na qual, em vez de esperar que as situações amadureçam, pressionam-se as pessoas, esperando que mudem instantaneamente. Não esqueçamos que a pressa e a impaciência são inimigas da vida espiritual. Porquê? Deus é amor, e quem ama não se cansa, não é irascível, não impõe ultimatos, Deus é paciente, Deus sabe esperar. Pensemos na história do Pai misericordioso, que espera o filho que saiu de casa: sofre com paciência, impaciente para o abraçar assim que o vê regressar (cf. Lc 15, 21); ou pensemos na parábola do trigo e do joio, com o Senhor que não tem pressa em extirpar o mal antes do tempo, para que nada se perca (cf. Mt 13, 29-30). A paciência faz-nos salvar tudo!
Mas, irmãos e irmãs, como se faz para aumentar a paciência? Sendo ela, como ensina São Paulo, um fruto do Espírito Santo (cf. Gl 5, 22), deve ser pedida precisamente ao Espírito de Cristo. Ele concede-nos a força mansa da paciência – a paciência é uma força mansa – porque «é próprio da virtude cristã não só praticar o bem, mas também saber suportar os males» (Santo Agostinho, Discursos, 46, 13). Sobretudo nestes dias, far-nos-á bem contemplar o Crucificado para assimilar a sua paciência. Um bom exercício é também levar-lhe as pessoas mais importunas, pedindo-lhe a graça de pôr em prática para com elas aquela obra de misericórdia tão conhecida e tão descuidada: suportar pacientemente as pessoas importunas. E não é fácil! Pensemos se agimos assim: suportar pacientemente as pessoas importunas. Começa-se pedindo para as considerar com compaixão, com o olhar de Deus, sabendo distinguir os seus rostos dos seus erros. Temos o hábito de catalogar as pessoas pelos erros que cometem. Não, isto não é bom. Procuremos as pessoas pelos seus rostos, pelos seus corações, não pelos seus erros!
Concluindo, para cultivar a paciência, virtude que dá alento à vida, é bom dilatar o olhar. Por exemplo, não limitando o campo do mundo aos nossos problemas, como nos convida a fazer a Imitação de Cristo: «Deveis, pois, lembrar-vos dos sofrimentos mais graves dos outros, para aprender a suportar os vossos, pequenos», lembrando que «não existe coisa alguma, por mais pequenina que seja, contanto que a suportemos por amor a Deus, que passe sem recompensa diante de Deus» (III, 19). E ainda, quando nos sentimos nas amarras da provação, como ensina Job, é bom abrir-nos com esperança à novidade de Deus, na firme confiança de que Ele não deixa que as nossas expetativas sejam desiludidas. Paciência significa saber suportar os males.
E aqui, hoje, nesta audiência, estão presentes duas pessoas, dois pais: um israelita e um árabe. Ambos perderam as suas filhas nesta guerra e ambos são amigos. Não olham para a inimizade da guerra, mas para a amizade de dois homens que se amam e que passaram pela mesma crucificação. Pensemos no lindo testemunho destas duas pessoas que, nas suas filhas, sofreram a guerra da Terra Santa. Amados irmãos, obrigado pelo vosso testemunho! (cf. Santa Sé) 

PARA REZAR



- SALMO 117
 
Refrão: Eis o dia que fez o Senhor,
             nele exultemos e nos alegremos.
             

Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom,
porque é eterna a sua misericórdia.
Diga a casa de Israel:
é eterna a sua misericórdia.
 
A mão do Senhor fez prodígios,
a mão do Senhor foi magnífica.
Não morrerei, mas hei de viver
para anunciar as obras do Senhor.
 
A pedra que os construtores rejeitaram
tornou-se pedra angular.
Tudo isto veio do Senhor:
é admirável aos nossos olhos. 

SANTOS POPULARES



SÃO FRANCISCO DE PAOLA

 

Francisco nasceu a 27 de março de 1416, filho de um casal de pais já avançados em idade: o seu pai Tiago Alessio conhecido como "Martolilla" e a sua mãe Viena di Fuscaldo, durante os primeiros quinze anos de casamento, esperaram em vão o nascimento de um filho; por isso, rezaram a São Francisco, o 'Poverello' (pobrezinho) de Assis, para interceder por eles e, inesperadamente, o seu filho chegou.

Agradecidos, os seus pais, cheios de alegria, deram-lhe o nome Francisco. O santo de Assis interveio novamente na vida daquela criança, nascida em Paola, uma cidade da Calábria, nas margens do mar Tirreno, na província de Cosenza: um mês depois do seu nascimento, descobriu-se que ele sofria de um abscesso no olho esquerdo, que se estendia até a córnea, e os médicos estavam desesperados para salvar o olho.

A mãe fez nova promessa a São Francisco: se fosse atendida, durante um ano o seu filho ficaria ao cuidado de um convento de Frades Menores (franciscanos), vestindo-o com o hábito dos franciscanos. O do hábito é um costume ainda existente no sul da Itália. Depois de alguns dias, o abscesso desapareceu completamente.

Foi criado sem confortos, mas nunca lhe faltou o necessário; aprendeu a ler e escrever. Por volta dos 13 anos - quando os seus pais quiseram cumprir a promessa feita a São Francisco – foi levado para o convento franciscano de São Marcos Argentano, ao norte de Cosenza.

Naquele ano, Francisco revelou talentos excepcionais: surpreendeu os frades ao dormir no chão, ao jejuar continuamente e ao rezar intensamente. No convento, já se começava a falar de milagres extraordinários: um dia, estando absorto em oração, na igreja, esqueceu-se de acender o fogo, debaixo da panela de legumes, para o almoço dos frades. Confuso, correu para a cozinha, onde, com um sinal da cruz, acendeu a lenha e, depois de alguns instantes, os legumes ficaram imediatamente cozidos.

Outra vez, esqueceu-se de colocar os carvões acesos no turíbulo; o sacristão, arreliado, chamou-lhe a atenção. Francisco foi as brasas mas sem recipiente adequado para as trazer. Então, colocou-as na aba do hábito sem que o tecido se queimasse.

Passado o ano do voto, Francisco voltou para casa, para desgosto dos frades e, de acordo com os seus pais. Depois, foi com eles numa peregrinação a Assis, ao túmulo de São Francisco. O jovem estava convencido de que aquela viagem lhe permitiria identificar o caminho a seguir, no futuro.

Pelo caminho, pararam em Loreto, Montecassino, Monteluco e Roma. Na 'Cidade Eterna', enquanto caminhava por uma rua, deparou-se com uma elegante e rica carruagem que transportava um cardeal, pomposamente vestido. O jovem não hesitou e, ao aproximar-se, repreendeu o cardeal pela sua pompa ostentosa; o espantado cardeal tentou explicar que era necessário manter a estima e o prestígio da Igreja aos olhos dos homens.

Em Monteluco, Francisco pôde conhecer o eremitério fundado, em 528, por Santo Isaac, um monge sírio que fugiu para o Ocidente: os eremitas ocupavam as celas espalhadas pela montanha. Francisco ficou muito impressionado com o estilo de sua vida, a tal ponto que, quando voltou para Paola - com apenas treze anos e em clara oposição ao que disse o cardeal romano - retirou-se para uma vida de eremita, num campo que pertencia ao seu pai, a cerca de um quilômetro da cidade. Era o ano de 1429.

Refugiou-se, primeiro, numa cabana, feita de galhos; depois, mudou-se para uma caverna, que ele próprio ampliou, cavando o tufo com uma enxada; a referida caverna está, hoje, preservada dentro do Santuário de Paola; neste lugar, viveu cinco anos, em penitência e contemplação.

A fama do jovem eremita espalhou-se pela região e muitos começaram a procurá-lo para pedir conselhos e conforto; havia pouco espaço para essas idas e vindas; então, Francisco voltou a descer rio abaixo, construindo uma cela nas terras do seu pai. Algum tempo depois, alguns jovens, depois de várias visitas, pediram-lhe para viverem como ele, na oração e na solidão.

Assim, em 1436, com uma capela e três celas, formou-se o primeiro núcleo da futura Ordem dos Mínimos; a pequena comunidade chamava-se “Eremitas do Irmão Francisco”.

Antes de os receber, Francisco pediu permissão ao seu Bispo de Cosenza, Mons. Bernardino Caracciolo, que, conhecendo o carisma do jovem eremita, concordou. Durante alguns anos, o grupo viveu de alimentos simples, colhidos, principalmente, da terra: pão, legumes, ervas e alguns peixes, oferecidos como esmola pelos fiéis. Ainda não eram uma verdadeira comunidade, mas rezavam juntos na capela, em determinados momentos.

Mais tarde, foi necessário ampliar os edifícios e, em 1452, Francisco começou a construir a segunda igreja e um pequeno convento, em torno de um claustro, ainda hoje preservado no complexo do Santuário.

Durante as obras, Francisco fez outras maravilhas: uma grande pedra que rolava sobre os edifícios foi parada com um gesto do santo e, ainda hoje, se conserva sob a estrada para o Santuário; também, entrou no forno de cal para consertar o telhado, passando pelas chamas e permanecendo ileso; além disso, fez fluir uma nascente com um toque de bastão, para matar a sede dos trabalhadores: a nascente é chamada, ainda hoje,“a água da cucchiarella”, porque os peregrinos costumam tirá-la com uma colher.

A sua fama de milagreiro espalhava-se cada vez mais e o Papa Paulo II, em 1470, enviou um bispo verificar o que se estava a passar; ao chegar a Paola, foi recebido por Francisco, que mandou trazer um braseiro para aquecer o quarto; o bispo repreendeu-o pelo excessivo rigor que professava, juntamente com os seus seguidores; então, Francisco pegou nas brasas acesas do braseiro, com as suas próprias mãos, sem se queimar, querendo assim indicar que, com a ajuda de Deus, isso poderia ser feito.

A morte repentina do Papa, em 1471, impediu o reconhecimento pontifício da Comunidade, entretanto aprovada pelo bispo de Cosenza, D. Pirro Caracciolo; No entanto, o consentimento papal chegou três anos depois, graças ao novo Papa, Sisto IV.

Segundo a tradição, um Espírito celeste, talvez o Arcanjo São Miguel, ter-lhe-á aparecido, enquanto ele rezava, segurando nas mãos um escudo luminoso no qual se podia ler a palavra "Charitas" e entregando-lho disse: "Isto será o brasão da tua Ordem".

A fama deste monge corpulento, com barba e cabelos compridos que nunca cortou, espalhou-se por todo o Sul de Itália, pelo que foi obrigado a mudar-se de Paola para fundar outros conventos, em vários locais da Calábria.

Também, foi-lhe pedido que iniciasse uma comunidade em Milazzo, na Sicília. Acompanhado por dois irmãos preparava.se para cruzar o Estreito de Messina. Então, perguntou a um pescador se, pelo amor de Deus, os transportava para a outra margem. O pescador recusou-se porque eles não podiam pagar a travessia. Sem perder a calma, Francisco amarrou a ponta do manto ao seu bastão, agarrou-se a ele, com os dois frades, e atravessou o Estreito naquele veleiro improvisado.

O milagre, um dos mais sensacionais atribuídos a Francisco, foi, posteriormente, confirmado por testemunhas oculares, incluindo o pescador Pedro Colosa, de Catona, um pequeno porto na costa da Calábria, que lamentou a sua recusa.

Curou os enfermos; ajudou os necessitados; 'ressuscitou' o seu sobrinho Nicolau, filho pequeno da sua irmã Brígida. Até o seu pai Tiago Alessio, que ficou viúvo, passou a fazer parte dos eremitas, tornando-se discípulo do seu filho até à sua morte.

Francisco, muitas vezes, levantou a sua voz contra os poderosos e em favor dos oprimidos; os seus sermões e as suas denúncias eram, muitas vezes, de grande violência verbal. Por isso, foi considerado perigoso e subversivo pelo rei de Nápoles, Fernando I de Aragão (conhecido como Ferrante). O rei enviou os seus soldados para o silenciar, mas nada puderam fazer, porque, apesar das buscas rigorosas, não foram capazes de o encontrar. Finalmente, o rei acalmou-se e deu instruções para que Francisco pudesse abrir quantos conventos quisesse; aliás, convidou-o a abrir um novo convento, em Nápoles (um outro já havia sido aberto, em 1480, em Castellammare di Stabia.

Foram enviados para Nápoles dois jovens frades que se estabeleceram numa capela campestre, onde, em 1846, foi construída, na famosa Piazza del Plebiscito, a grande Basílica Real de S. Francisco da Paola.

Entretanto, aproximava-se uma grande, inesperada e não desejada reviravolta na sua vida: em 1482, um comerciante italiano, passando por Plessis-les-Tours, França - onde, naquela época, residia o rei Luís XI, gravemente doente - falou dele a um escudeiro real, que informou o rei. Este enviou, imediatamente, o seu chefe de gabinete à Calábria para convidar o santo eremita a ir à França para o ajudar na sua doença. Francisco recusou o convite, apesar do rei de Nápoles apoiar o pedido do rei francês.

Então, Luís XI recorreu ao Papa Sisto IV que, por razões políticas e económicas, não quis desagradar ao soberano e, por isso, ordenou ao eremita que partisse para França, para grande consternação e dor de Francisco, que foi forçado a deixar a sua terra e os seus eremitas, em idade já bastante avançada: Francisco tinha 67 anos e estava com a saúde muito debilitada.

Durante a sua passagem por Nápoles, foi recebido com todas as honras pelo rei Fernando I, curioso por conhecer o frade que ousara opor-se-lhe; o soberano testemunhou, sem ser visto, uma levitação de Francisco, absorto em oração no seu quarto; depois, tentou conquistar a sua amizade, oferecendo-lhe um prato cheio com moedas de ouro, para serem usadas na construção de um convento em Nápoles.

Conta-se que Francisco pegou numa moeda; quebrou-a e saiu sangue. Voltando-se para o rei, disse: “Senhor, este é o sangue dos seus súbditos que o senhor oprime e que clamam por vingança diante de Deus”. Francisco anunciou, também, o fim da monarquia aragonesa, ocorrido no início dos anos 1500.

Vestido com um hábito desgastado e segurando o bastão rústico na sua mão, foi secretamente captado por um pintor, encarregado pelo rei de pintar o seu retrato, que está guardado na Igreja da Anunciada, em Nápoles; uma cópia desse retrato está na Igreja de S. Francisco da Paola, em Roma. Pensa-se que a pintura retrata Francisco de Paola, quando tinha 67 anos.

De passagem por Roma, foi visitar o Papa Sisto IV, que o acolheu cordialmente. Em Maio de 1482, Francisco chegou ao castelo de Plessis-du-Parc, onde se encontrava o rei Luís.

Na Corte, foi recebido com muito respeito; teve inúmeras conversas com o rei, principalmente com o objectivo de o fazer aceitar a inevitabilidade da condição humana, igual para todos os homens. Por mais que o rei insistisse em que fizesse alguma coisa para o curar, Francisco permaneceu firme na sua posição, acabando por convencê-lo a aceitar a sua morte iminente, que ocorreu nesse ano de 1482, depois de ter resolvido os diferendos que mantinha com a Igreja.

Após a morte do rei Luís XI, o frade, que vivia numa mísera cela, pediu para poder voltar para a Calábria. Mas, a regente do Reino, Ana de Beaujeu e, mais tarde, o rei Carlos VIII, oposeram-se, considerando Francisco seu conselheiro e director espiritual.

Contrariado, Francisco teve de aceitar este último sacrifício de viver o resto da sua vida em França. Então, aproveitou para promover a difusão da sua Ordem; aperfeiçoou a Regra dos seus frades "Minimos", que foi aprovada, definitivamente, em 1496, pelo Papa Alexandre VI. Francisco fundou a Segunda Ordem e a Terceira reservada aos leigos e iniciou-se a devoção das treze sextas-feiras consecutivas.

Francisco morreu no dia 2 de Abril de 1507, em Plessis-les-Tours, perto de Tours, onde foi sepultado. Era uma Sexta-Feira Santa e ele tinha 91 anos e seis dias.

Seis anos depois, o Papa Leão X proclamou-o beato, em 1513, e canonizou-o em 1519.

O seu túmulo tornou-se lugar de peregrinações, até que, em 1562, foi profanado pelos huguenotes (protestantes franceses) que queimaram o seu corpo; restando apenas as cinzas e alguns pedaços de osso.

Estas relíquias também sofreram profanação durante a Revolução Francesa. Em 1803, o culto foi restaurado.

A sua memória litúrgica é celebrada no dia 2 de Abril.